Blog escrito por Jessica Ribeiro, Coordinadora de Comunicación para WITNESS Brasil. Pode ler o blog em português aqui.
Atividade aconteceu em Paraty e teve a presença de mais de 20 ativistas para discutir estratégias de uso do vídeo para defesa do território
Entre os dias 14 e 20 de novembro, representantes de coletivos, movimentos sociais e organizações de diversas partes do país se reuniram para participar do primeiro encontro da rede CORAL – Colectivos Reunidos de América Latina com o objetivo de fortalecer suas estratégias de comunicação, em particular o uso de vídeo, para a proteção de territórios.
Ao longo de uma semana de atividades, artistas, ativistas, jornalistas independentes e representantes de comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras puderam compartilhar suas experiências locais de uso da comunicação como ferramenta de luta social e participar de dinâmicas e atividades de formação da WITNESS sobre produção e preservação audiovisual.
Para o historiador Ademas da Costa, do coletivo AMaravista, de Niterói, estar conectado a outros coletivos permitiu levar o seu território a outras redes e espaços.
“Fiquei feliz por ter pessoas de tantos lugares. Isso ajuda a entender o que acontece com a especulação imobiliária em outros espaços, por exemplo, e funciona para a gente dialogar e ver outras formas de convívio”, destaca.
Dentre as atividades, foram feitas linhas do tempo de cada organização e um mapeamento de atores relevantes nos territórios. Segundo Cristina Rosa, jornalista e representante do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, de Porto Alegre, as dinâmicas permitiram ver o quanto de trabalho já foi produzido pelos coletivos e o quanto de pessoas já foram mobilizadas.
“Cada um vê o que faz e vê como compartilha e melhora o seu processo. É um desafio muito interessante conhecer a linha do tempo do outro e suas relações. É também um desafio parar para pensar o nosso processo. Não só produzir, mas também nos conectar”, destaca sobre as atividades realizadas no encontro.
Para Luisa Cardoso, representante do Fórum de Comunidades Tradicionais de Ubatuba, uma das atividades mais interessantes do encontro foi a de discussão de narrativas hegemônicas e contra-hegemônicas.
“É importante pensar em como a gente comunica para dentro das nossas comunidades o pensamento não-hegemônico, sem usar narrativas eurocêntricas, machistas, racistas. Foi muito importante fazer essa construção coletiva”, afirma.
Simone Giovine, que representou o Coletivo audiovisual Beture, de jovens cineastas Mebêngôkre/Kayapó do sul do Pará, aponta para a importância da comunicação popular e do fomento de novas narrativas que nos façam ouvir, respeitar e pisar manso nos territórios indígenas.
“O papel dos comunicadores é absolutamente fundamental para abrir os nossos olhos como sociedade. Há outras possibilidades de mundo, que já existem, que precisam ser preservadas e defendidas”, afirma.
Participaram do encontro no Brasil integrantes da AMaravista, AYRCA (Associação Yanonami do Rio Cauaburis e Afluentes), Bombozila, Cineclube Caiçara, Coletivo Beture, Coletivo Catarse, FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), Fórum de Comunidades Tradicionais, Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, Projeto Preserve Morro Santana e Quilombo Santa Rosa dos Pretos.
Coletivos Reunidos da América Latina
Enquanto o encontro no Brasil aconteceu em Paraty, integrantes da rede CORAL de diversos países da América Latina também se reuniram no México para fortalecer a comunicação comunitária para a defesa do território.
Os encontros presenciais foram os módulos finais das atividades da CORAL, que começaram em setembro, de forma virtual, e abordaram temas sobre narrativas, comunicação estratégica para aprimorar habilidades de advocacy, documentação de violações de direitos humanos. Além disso, também foram apresentadas ferramentas para apoiar os participantes a treinar outras pessoas em suas comunidades e fortalecer a comunicação em nível regional.
Histórico
Desde 2015, a WITNESS tem se reunido junto a outras organizações que trabalham com cinema comunitário, videoativismo e mídias livres para trocar experiências, fazer um mapeamento de coletivos da América Latina e criar espaços de aprendizado coletivo para estreitar laços de solidariedade e colaboração entre os grupos.
Após inúmeras reuniões, atividades em conjunto e do trabalho de coletivos de diferentes lugares da América Latina, este ano a rede CORAL foi formada com o objetivo de compartilhar ferramentas para fortalecer a comunicação comunitária para a defesa do território e a construção de narrativas próprias. Nesse sentido, a aposta do grupo é a formação de multiplicadores que possam atuar em diferentes comunidades fortalecendo estratégias de comunicação e o debate e a ação da juventude sobre as mudanças climáticas, a defesa do direito à terra e a preservação ambiental.